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| Imagem: freepik |
Fevereiro de 2024 entrou para a história recente da Petrobras como o último mês em que as ações preferenciais (PETR4) sustentaram uma trajetória de valorização consistente e robusta. Com alta acumulada de aproximadamente 5,3% ao longo do mês e ganhos de 14,6% no ano até aquele momento, a companhia se tornou a queridinha do Ibovespa, liderando as recomendações de carteiras de investimento e batendo recordes históricos de valor de mercado – chegando a R$ 571 bilhões, o maior patamar desde a fundação da empresa. Analistas de peso, como Goldman Sachs e Banco Safra, projetavam dividend yields de até 16% para o ano, com pagamentos extraordinários estimados entre US$ 6,5 bilhões e US$ 7 bilhões. O preço do petróleo Brent acima de US$ 80 por barril, a solidez operacional e a promessa de proventos generosos alimentavam um ciclo virtuoso de compras que parecia inabalável.
No entanto, o que começou como uma lua de mel entre investidores e a estatal terminou em um dos episódios mais controversos da gestão recente: um conflito público entre o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e a própria empresa, seguido de fortes suspeitas de insider trading. Essas turbulências não apenas interromperam a alta, mas marcaram o início de uma longa sequência de desvalorização que levaria PETR4 a preços mínimos históricos nos meses seguintes.
O Auge: Recordes, Dividendos e Euforia no Mercado
O mês de fevereiro foi dominado por notícias positivas. Desde o dia 1º, PETR4 já subia quase 3%, impulsionada por relatórios otimistas do Goldman Sachs que reforçavam a tese de dividendos extraordinários. A ação era a mais recomendada por 11 casas de análise, e a cada pregão parecia consolidar uma nova máxima. Em 19 de fevereiro, a Petrobras alcançou R$ 570,1 bilhões em valor de mercado – um salto de R$ 211 bilhões em apenas 12 meses, ou cerca de 60% de valorização. Seis recordes consecutivos foram registrados ao longo do mês, com a ação flertando com os R$ 42.
Investidores institucionais e pessoas físicas se empolgavam com a combinação de fundamentos sólidos (produção recorde, custos controlados) e um cenário macro favorável (petróleo em alta, dólar estável). A exploração na margem equatorial era celebrada como “excelente notícia” por analistas da Suno, e a empresa pagava R$ 0,2431 por ação em proventos regulares. Tudo indicava que 2024 seria o ano da Petrobras como geradora de caixa e distribuidora de riqueza.
O Estopim: Declarações de Prates e o Conflito com a Empresa
O castelo de cartas começou a desmoronar em 28 de fevereiro. Em entrevista à Bloomberg, o CEO Jean Paul Prates afirmou que a Petrobras planejava reduzir os dividendos pela metade nos próximos anos para direcionar recursos a investimentos em energias renováveis – especialmente eólica offshore – com a meta ambiciosa de ter 50% da receita oriunda de fontes sustentáveis em uma década.
Horas depois, a própria Petrobras emitiu um comunicado oficial negando que qualquer decisão sobre redução de proventos tivesse sido tomada. A contradição foi imediata e devastadora: as ações despencaram mais de 5,16% em um único pregão, apagando grande parte dos ganhos acumulados no mês. O mercado interpretou o episódio como um sinal claro de ingerência política na gestão da empresa, reacendendo temores de que o governo federal estivesse priorizando agendas ideológicas em detrimento da criação de valor para acionistas.
Insider Trading: A Sombra da Manipulação
Pior do que o conflito de mensagens foi o que aconteceu nos bastidores. Horas antes da entrevista de Prates ser publicada, foi registrado um volume atípico de negociações de opções de venda (puts) sobre PETR4 – contratos que lucram com a queda da ação. O movimento foi tão suspeito que analistas e reguladores levantaram a hipótese de insider trading: alguém com informação privilegiada teria se antecipado à notícia negativa para obter ganhos expressivos.
A B3 e a CVM abriram investigações, mas o dano à credibilidade já estava feito. No X (antigo Twitter), o caso viralizou com hashtags como #InsiderPetrobras e #PratesGate, com investidores acusando a gestão de “diversificação para pior” e comparando a Petrobras a uma empresa refém de interesses políticos.
O Legado: Da Euforia à Desconfiança Crônica
Desde aquele fatídico 28 de fevereiro, PETR4 não conseguiu mais sustentar uma trajetória de alta consistente. A confiança do mercado foi abalada de forma estrutural: investidores passaram a precificar não apenas os fundamentos da empresa, mas o risco político inerente à sua governança. O que se seguiu foi uma sequência de quedas, com a ação atingindo mínimas históricas em meses posteriores, mesmo com o petróleo em patamares elevados.
Fevereiro de 2024, portanto, não foi apenas o último grande momento de glória de PETR4 – foi o ponto de inflexão em que a Petrobras deixou de ser vista como uma máquina de gerar valor e passou a ser tratada como um ativo de alto risco, sujeito a interferências imprevisíveis. O conflito entre Prates e a empresa, somado às suspeitas de insider trading, transformou um ciclo de otimismo em um alerta permanente: na Petrobras, os maiores riscos nem sempre vêm do preço do barril – mas de Brasília.
O Caminho de Volta: Produção Recorde, Dividendos Altos e o Papel do Brent
Para retomar a confiança do mercado no preço das ações, o preço do petróleo Brent necessita retomar os preços mais elevados, somado a uma confiança renovada na política da empresa para com os investidores, além de um plano estratégico favorável alinhado ao preço atual do barril de petróleo e às estimativas de produção da companhia. Felizmente, as notícias recentes trazem sinais encorajadores nesse sentido.
A Petrobras bateu recorde de produção no terceiro trimestre de 2025, com destaque para os campos da Bacia de Búzios e Campos, e prevê patamares elevados de produção sustentada nos próximos anos. Esse aumento operacional reforça a capacidade de geração de caixa, essencial para sustentar a política de remuneração aos acionistas.
A promessa atual é clara: manter os altos pagamentos de dividendos. O payout está em torno de 93,98%, e o dividend yield alcança 17,32% – um número inclusive maior que os 16% projetados em fevereiro de 2024. Essa combinação de produção em alta, proventos robustos e foco em eficiência operacional pode ser o gatilho para uma nova fase de valorização, desde que o Brent volte a negociar acima de US$ 85–90 por barril de forma sustentada e que a governança demonstre independência e previsibilidade.
Se a Petrobras conseguir alinhar esses três pilares – preço do petróleo, produção recorde e política de dividendos confiável –, o mercado pode finalmente começar a precificar o futuro com otimismo novamente. Até lá, o trauma de fevereiro de 2024 permanece como um lembrete: na Petrobras, o valor das ações não depende apenas do que está no subsolo – mas do que acontece na superfície, em Brasília e na sala de reuniões do conselho.
Resumo: Do Trauma à Esperança – A Petrobras entre o Risco Político e o Potencial de Recuperação
Em fevereiro de 2024, PETR4 viveu seu último grande ciclo de alta, impulsionado por dividendos, petróleo forte e fundamentos sólidos – até o choque de Prates, o insider trading e a ingerência política derrubarem tudo. Hoje, com produção recorde, payout de 94% e yield de 17,3%, a estatal tem as armas para voltar a brilhar. Falta apenas um Brent mais alto e, sobretudo, governança confiável. O futuro de PETR4 não está no pré-sal – está na capacidade de convencer o mercado de que Brasília não manda mais na sala de comando.
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Esta análise não constitui uma recomendação de compra ou venda de ativos. As informações apresentadas são apenas para fins informativos, e me isento de qualquer responsabilidade por decisões de investimento relacionadas aos ativos mencionados.

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