Por que o Brasil ainda não decolou de vez na confiança do investidor estrangeiro?
Olá, pessoal! Este é um texto 100% baseado na minha análise particular após acompanhar de perto a evolução macroeconômica e institucional do Brasil em 2025. Vou conectar alguns pontos que considero cruciais para entender por que, mesmo com avanços, o tão sonhado “voo de cruzeiro sustentável” (como disse Guilherme Benchimol, fundador da XP) ainda não aconteceu completamente.
Em novembro de 2025, li a entrevista do Benchimol no Valor Econômico dizendo que o investidor estrangeiro precisa acreditar que o Brasil está em um voo estável e previsível. Concordo totalmente, mas os fatos recentes mostram que ainda há muita turbulência no caminho.
1. O estresse fiscal continua vivo
Apesar do arcabouço fiscal de 2023 e da meta contínua de inflação, o déficit primário deve fechar 2025 praticamente zerado ou levemente negativo (-0,1% do PIB, segundo FMI e Tesouro Nacional). A dívida bruta segue na faixa de 79-81% do PIB. Isso não é tragédia, mas também não transmite a segurança que México ou Chile transmitem hoje.
2. Corrupção ativa em estatais: o calcanhar de Aquiles
2025 foi um ano recorde de operações anticorrupção, mas a percepção piorou. Dois casos que me chamaram muita atenção:
- INSS – esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados desviou pelo menos R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Operação “Sem Desconto” da PF em abril de 2025 expôs servidores, associações e bancos correspondentes.
- Correios e outras estatais – força-tarefa do TCU investiga nove empresas públicas por risco fiscal elevado e possível ingerência política.
3. Banco do Brasil e a bomba do crédito rural
O caso que mais me surpreendeu foi o do Banco do Brasil. Em 2025 o banco foi pego totalmente de surpresa com a explosão de inadimplência no agronegócio: R$ 12,7 bilhões em atrasos acima de 90 dias, provisões dobraram para R$ 15,9 bilhões e o lucro despencou 60% em um trimestre. Combinado com seca, alta de insumos e mudança nas regras de provisionamento (Resolução CMN 4.966), virou uma crise institucional dentro de um banco que detém quase 50% do crédito rural do país. Isso não é corrupção direta, mas mostra fragilidade de governança e gestão de risco em empresa com controle estatal.
4. Outros exemplos recentes que pesam
- Petrobras – indicações políticas questionadas e retrocessos em acordos de leniência
- Fundos de pensão (Previ, Petros) – investigações antigas que voltam à tona
- BNDES – opacidade em alguns financiamentos históricos
Resumo conclusivo
O Brasil melhorou muito desde 2022: subiu para 4º lugar no ranking de confiança para IED da Kearney, tem inflação convergindo para a meta e um arcabouço fiscal que, pelo menos no papel, funciona. Porém, enquanto episódios de corrupção ativa em estatais (INSS, Correios) e crises institucionais graves (caso Banco do Brasil no agro) continuarem aparecendo com frequência, o investidor estrangeiro vai manter um pé atrás. Na minha visão particular, a confiança plena — aquela que traz IED acima de US$ 80-90 bilhões anuais de forma estável, real abaixo de R$ 5,30 e risco-país próximo de 150 pontos — só deve se consolidar de verdade entre 2027 e 2029, e somente se houver compromisso inabalável com ajuste fiscal, governança de estatais e punição efetiva de desvios. Até lá, seguimos em voo com alguma turbulência.
Obrigado por ler até aqui!
Fonte da entrevista que iniciou toda essa reflexão: https://valor.globo.com/financas/noticia/2025/11/27/investidor-estrangeiro-tem-que-confiar-que-brasil-est-em-voo-de-cruzeiro-sustentvel-diz-fundador-da-xp.ghtml

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