ABEV3: Por que as ações não param de subir mesmo com fundamentos aparentemente ruins?
Publicado em 04 de dezembro de 2025
Eu acompanho o mercado brasileiro há mais de 15 anos e poucas vezes vi um movimento tão contraintuitivo quanto o que estamos vivendo com as ações da Ambev (ABEV3) em 2025. Desde outubro, o papel simplesmente não tem freio para cima, mesmo diante de uma sequência de notícias que, em condições normais, derrubariam qualquer empresa do setor.
Primeiro, uma rápida história da companhia para quem ainda não conhece bem: a Ambev foi criada em 1999 a partir da fusão entre as centenárias Brahma e Antarctica. Em 2004, uniu-se à belga Interbrew (depois AB InBev) formando o maior grupo cervejeiro do mundo. Hoje, além da liderança absoluta no mercado brasileiro de cervejas, possui um portfólio que inclui refrigerantes, águas, energéticos e bebidas prontas. É uma das empresas mais sólidas da B3 e faz parte do índice Ibovespa desde sua criação.
Mas o que está acontecendo agora desafia a lógica de curto prazo:
- Produção de cerveja no Brasil em queda (dados da Sindicerv mostram recuo em 2025);
- Preços das bebidas subindo acima da inflação, pressionando o bolso do consumidor;
- Arrowstreet Capital vendeu 13.190.388 ações da participação que tinha;
- Margem de lucro líquida negativa em alguns trimestres recentes;
- Lucro por ação (LPA) também no vermelho em períodos específicos.
E mesmo assim o preço da ação só sobe. Por quê?
Na minha visão, é confiança excessiva – e talvez justificada – no longo prazo da empresa. Quando abrimos a demonstração financeira anual (não apenas o trimestre isolado), o que vemos é uma companhia que, ano após ano, entrega crescimento consistente de receita e de lucro líquido. Os números operacionais continuam robustos, o caixa é forte e a marca é praticamente imbatível no Brasil. O mercado parece estar precificando exatamente isso: a capacidade histórica da Ambev de atravessar crises e sair maior do outro lado.
No gráfico trimestral, o indicador Stoch RSI está em níveis que só vimos entre 2010 e 2014 – exatamente o período em que a ação mais valorizou na história. Quem entende análise técnica sabe que, quando esse oscilador entra nessa região de “sobrecompra extrema” no timeframe trimestral, costuma vir uma pernada longa de alta, ainda que com muita volatilidade no caminho (semanas e meses de sobe-e-desce).
Resumo conclusivo: ABEV3 vive hoje um movimento impulsionado mais por confiança no histórico de execução da empresa do que pelos indicadores de curto prazo. O gráfico trimestral sugere espaço para novas máximas, mas o caminho será cheio de ruído e correções. Quem entrar agora precisa ter estômago para aguentar a volatilidade até o próximo pico relevante.
Fontes consultadas:
Importante: Este texto reflete apenas minha análise pessoal e não constitui recomendação de compra, venda ou manutenção de ABEV3 ou qualquer outro ativo. Cada investidor deve fazer sua própria pesquisa e, preferencialmente, consultar um profissional certificado antes de tomar qualquer decisão de investimento.
Abraços e bons investimentos,
Rota Lucrativa

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